sábado, 28 de novembro de 2015

Homilia de Dom Henrique Soares da Costa - I Domingo do Advento
29 de Novembro de 2015

Leituras do Dia:
1Leitura: Jr 33,14-16/Salmo: Sl 24,4bc-5ab.8-9.1014 (R.1b)/2Leitura: 1Ts 3,12-4,2/Evangelho: Lc 21, 25-28.34-36

“A Vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em Vós, que eu não seja envergonhado!”

Com a Eucaristia deste hoje estamos iniciando um novo Ano Litúrgico e também o Tempo do Advento, que nos prepara para o Natal do Senhor e celebra liturgicamente a Sua Vinda gloriosa no final dos tempos, no Dia de Cristo.

Durante este novo ano, aos domingos, escutaremos sempre trechos do Evangelho segundo Lucas. E na Missa deste Primeiro Domingo deste novo tempo, a Igreja, no missal, coloca as palavras do salmo 24, que foram lidas há pouco: “A Vós, meu Deus, elevo a minha alma”... A Igreja ergue os olhos, o coração, a alma para o Senhor, reconhecendo-se pobre, pequena e necessitada. “Confio em Vós, que eu não seja envergonhado!” Estas palavras, exprimem qual deva ser nossa atitude neste santo Advento: atitude de quem se reconhece necessitado de um Salvador; de quem se sabe pequeno e incapaz de caminhar sozinho! A humanidade, sozinha, não chega à plenitude, não encontra a felicidade: precisamos que Deus venha e nos estenda a mão, que Ele nos eleve e nos salve!

O Advento nos prepara para o Natal e nos faz pensar que um dia o Senhor virá em Sua Glória para levar à plenitude Sua obra de salvação. É um tempo de vigilância, de súplica, de alegre esperança no Senhor que vem: veio em Belém, vem no mistério celebrado no Natal, virá no final dos tempos e vem a cada dia, nos grandes e pequenos momentos, nos sorrisos e nas lágrimas.

A liturgia nos ajuda a viver bem este tempo com símbolos próprios desta época:

a cor roxa, que significa sobriedade e vigilância;
o “Glória”, que não será rezado na Missa, para recordar que estamos nos preparando para cantá-lo a plenos pulmões no Natal;
a ornamentação sóbria da igreja;
a coroa do Advento, que pode ser utilizada e abençoada na Celebração deste Domingo;
as leituras e cânticos tão comoventes, sempre pedindo a graça da Vinda do Senhor;
a recordação dos personagens que nos ensinam a esperar o Messias: Isaías, João Batista, Isabel e Zacarias, José e, sobretudo, a Virgem Maria.

Neste tempo, cuidemos de meditar mais na Palavra de Deus, tanto nas leituras da Missa diária quanto no livro do Profeta Isaías. Procuremos também o sacramento da confissão. Abramos nosso coração Àquele que vem!

No Evangelho deste Domingo, o Senhor nos recorda a necessidade da vigilância: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse Dia não caia de repente sobre vós; pois esse Dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra. Portanto, ficai atentos!”

Aquele cuja vinda em humildade celebraremos no Natal, cuja Vinda em Glória esperamos no final dos tempos, vem a nós constantemente! Somente numa atitude de oração e vigilância, de sobriedade e de expectativa amorosa, é que poderemos reconhecê-Lo e acolhê-Lo. É nossa atitude agora que determinará nossa sorte quando Ele vier no final dos tempos.

Com uma linguagem impressionante e simbólica, Jesus quer nos dizer hoje que Sua Manifestação final vai co-envolver todas as coisas: a criação toda, a história humana toda e cada um de nós. Nada nem ninguém escapará do Dia do Cristo; tudo será passado a limpo pelo Filho do Homem glorioso: “Verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com grande poder e glória”.

Esta Vinda será discriminatória, pois discriminará bons e maus: será manifestação da salvação para quem o acolheu, e será perdição para quem o rejeitou! Daí, a advertência séria, o apelo quase que dramático que Jesus nos faz: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai a cabeça, porque a vossa libertação se aproxima; ficai atentos para terdes força de escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem!” Os sinais que o Senhor nos dá, acontecem sempre, em cada geração, como um convite insistente à vigilância.

É preciso que compreendamos que este Dia final que o Senhor nos prepara – Dia da Sua Vinda, da Sua Manifestação, da Sua Aparição – será Dia de salvação: “Eis que virão dias em que farei cumprir as promessas de bens futuros... Naqueles dias, farei brotar de Davi a semente de justiça... e Judá será salvo e Jerusalém terá uma população confiante”.

Deus nunca pensou o mal para nós: o bem, a bênção, a graça, a salvação que Ele prenunciou como promessa no Antigo Testamento, começaram, efetivamente, a realizar-se com a inauguração do Reino, trazido pela vinda do nosso Salvador na nossa carne mortal e serão manifestados em plenitude na Vinda final, na Parusia do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo!

É necessário, pois, que nos abramos para o Bem que o Senhor nos prepara; este Bem é Aquele que veio em Belém, que nos vem em cada Eucaristia e que nos virá no final de tudo: “este é o Nome com que será chamado: Senhor-nossa-justiça”. Este Bem é Jesus-Salvador! Por isso mesmo, na segunda leitura da Missa hodierna, o Apóstolo nos convida a buscar a santidade aos olhos de Deus, nosso Pai, preparando-nos para “o Dia da Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os Seus santos” e nos pede insistentemente que façamos “progressos ainda maiores”.

Tomemos consciência de que nosso caminho neste mundo passa, é apenas um caminho!
Por que temos tanto medo de recordar que aqui estamos de passagem e que somente lá permaneceremos para sempre?

Pois bem: vivamos bem nosso Advento, vivamos bem os dias de nossa vida, à luz do Dia do Cristo que vem! Que caminhemos com os pés bem firmes neste mundo e os olhos voltados para o alto. Que nossos sentimentos sejam os do salmo da Missa de hoje: “Mostrai-me, ó Senhor, Vossos caminhos, e fazei-me conhecer a Vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação!”

Que nós, “acorrendo com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à Sua Direita na comunidade dos justos” no Dia da Sua Vinda!Vem, Senhor Jesus! Amém!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

São Luiz de Montfort: Os devotos escrupulosos.

Os devotos escrupulosos são pessoas que temem desonrar o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao elevar a outra. Não podem suportar que se prestem à Santíssima Virgem louvores muito justos, tais como os Santos Padres lhe dirigiram (…). Como se uma coisa fosse contrária à outra, como se aqueles que rezam a Nossa Senhora não rezassem a Jesus Cristo por meio d’Ela! Não querem que se fale tantas vezes da Santíssima Virgem, nem que a Ela nos dirijamos tão frequentemente. Eis algumas frases que lhes são habituais:

“Para que servem tantos terços, tantas confrarias e devoções externas à Santíssima Virgem? Há muita ignorância nisto tudo! Faz-se da religião uma palhaçada. Falem-me dos que têm Devoção a Jesus Cristo (…). É preciso pregar Jesus Cristo: eis a doutrina sólida!”

Isto que dizem é verdadeiro num certo sentido; mas quanto à aplicação que disso fazem, para impedir a Devoção à Virgem Santíssima, é muito perigoso. Trata-se duma cilada do inimigo sob pretexto dum bem maior. Pois nunca se honra mais a Jesus Cristo do que quando se honra muito à Santíssima Virgem. A razão é simples: só honramos a Virgem no intuito de honrar mais perfeitamente a Jesus Cristo, indo a Ela apenas como ao caminho que leva ao fim almejado, que é Jesus.

– Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Os devotos escrupulosos. São Luiz Maria G. de Montfort.
O essencial da nossa fé

O cristianismo, ou nasce de um encontro, ou não é cristianismo!
Ser cristão é ter encontrado - ou ter sido encontrado - Cristo Jesus e, doravante, viver num contínuo aprofundamento dessa experiência, numa relação profundamente existencial com Ele.

Uma das maiores tentações dos cristãos de hoje, sobretudo padres e religiosos, é reduzir Jesus a uma ideia, o cristianismo a um programa humanístico e a Igreja a uma ONG de serviços gerais de filantropia.

No entanto, o cristianismo, se não quiser morrer ou se tornar totalmente insípido, terá de nascer sempre de um encontro e consistir sempre numa relação de amizade profundamente existencial com Aquele a quem encontramos, ou melhor, por quem fomos encontrados.

E desse encontro, surge, para o cristão, um contínuo desafio, que o interpela: responder à pergunta: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16,15).

O mundo, pense ele o que quiser, de acordo com a moda do momento, da filosofia de plantão; nossa resposta só pode ser aquela de sempre, aquela da Igreja, aquela de Pedro: «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo» (Mt 16,16), ou ainda aquela, de Natanael: «Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!» (Jo 1,49).

Dom Henrique Soares da Costa
Terça-feira, 10 / 11 / 2015
Comentário do dia por Santo Ambrósio (c. 340-397)
Bispo de Milão, Doutor da Igreja
Sobre o Evangelho de S. Lucas 8, 31-32

«Somos inúteis servos»

Que ninguém se vanglorie do que faz, pois é de simples justiça que sirvamos o Senhor. [...] Enquanto vivermos, devemos trabalhar sempre para este nosso Senhor. Reconhece pois que és um servo obrigado a um grande número de serviços. Não te envaideças por seres chamado «filho de Deus» (1Jo 3,1): reconheçamos esta graça, mas não esqueçamos a nossa natureza. Não te gabes de teres servido bem, pois fizeste o que devias fazer. O sol desempenha o seu papel, a lua obedece, os anjos cumprem os seus serviços. S. Paulo, «o instrumento escolhido pelo Senhor para os pagãos» (Act 9,15), escreve: «Eu não mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus» (1Cor 15,9). E, se mostra que não tem consciência de qualquer falta, acrescenta de seguida: «Mas nem por isso estou justificado» (1Cor 4,4). Não pretendamos pois ser louvados por nós próprios, nem antecipemos o julgamento de Deus.

Fonte: Arautos do Evangelho