quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

D. Antônio de Almeida Morais Júnior: A Igreja Católica Romana apresenta a fisionomia da mais intangível unidade.

A unidade da Igreja vem da própria essência da verdade. A verdade é essencialmente una. A sua realidade necessariamente impõe a adesão da nossa inteligência e do nosso coração. Os princípios ontológicos da nossa razão impõem a permanência da unidade da verdade, em qualquer terreno em que ela se situe. Por isso mesmo, a verdade foge ao relativismo e à dependência. É ela independente do tempo, do espaço e dos homens. Pois, na realidade, a que se reduziria, se ela devesse submeter-se ao capricho dos homens, às modificações dos momentos históricos ou dos lugares do espaço?
 
É por isso que a verdade não é uma criação da inteligência do homem. Os olhos humanos podem divisar astros na amplidão dos espaços, por si sós ou com o auxílio poderoso dos telescópios; não podem, porém, criá-los nos espaços vazios. Também a mente humana traz, em si, a capacidade para apreender a verdade, mas não pode criar a verdade.
 
Nem Deus cria a verdade, sendo Ele a Verdade Eterna, Infinita, Absoluta. A densidade metafísica do seu ser é a realidade absoluta e, por isso mesmo, a verdade absoluta. Deus manifesta a verdade. Foi por isso que Jesus Cristo não disse: eu sou o pregador da verdade, mas afirmou: "Eu Sou a Verdade". A própria verdade científica que é aquisição humana (não criação do homem, porém mera descoberta do homem) , exige essa unidade intangível, sem o que seria impossível a existência da ciência. A multiplicidade aparente da verdade científica existe enquanto os homens tateiam o terreno das hipóteses. Quando, porém, eles conseguem romper as camadas movediças das hipóteses e tocar a rocha eterna da verdade, a unidade se impõe com uma soberania absoluta.
 
Nem seria possível construir a ciência sem esse postulado essencial da unidade. Donde se depreende como a verdade religiosa, revelada por Deus, deve exigir essa profunda unidade. Já não se trata apenas desta ou daquela opinião de como se deve prestar à Deus um culto, mas da revelação do próprio Deus, ditando, diretamente ou pelos seus enviados, o modo pelo qual quer ser cultuado pelos homens.
 
Deste modo, ninguém pode presumir tenha o direito de escolher a doutrina religiosa, a seu capricho, para servir a Deus.
 
Só uma religião revestida de todas as garantias sobrenaturais da revelação pode seguramente impor ao homem o verdadeiro caminho a seguir.
 
É coisa tão natural ao nosso espírito, à nossa inteligência, que jamais poderíamos imaginar que a verdadeira religião não implicasse a falsidade de todas as outras. Só uma religião pode ser verdadeira e só é verdadeira aquela que conserva, através dos séculos e dos espaços, a mais perfeita unidade doutrinária.
 
Sob esse aspecto, a Igreja Católica Romana apresenta a fisionomia da mais intangível unidade. Nós que nos acostumamos a contemplar as instituições simplesmente humanas no desenrolar dos séculos, sabemos que jamais puderam conservar essa nota dominante. Até mesmo esse sinal da precariedade das coisas dos homens deveria servir como índice evidente para distinguirmos o que é humano do que é divino.
A história aí está para testemunhar a eterna versatilidade das coisas humanas. [...]
 
Recife, 1º. de fevereiro de 1958. 
†Antônio, Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife.
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Fonte: Prefácio do Livro «Legítima Interpretação da Bíblia, Lúcio Navarro - 1958» (Alexandria Católica)

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