segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

     Cardeal Joseph Ratzinger: A Obediência a Igreja
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Resumo

No conflito do cenário mundial atual entre fé e obediência o, então Cardeal Ratzinger (Bento XVI), em um pronunciamento datado do ano de 1988, já parecia aludir de certa forma a crise que se instalaria no cristianismo um pouco mais tarde, com uma força surpreendente e aparentemente sem precedentes. Em seu discurso poder-se-á mais uma vez tomar consciência donde vem algumas armadilhas e de como conseguir combate-las, mas principalmente de como manter nosso principal poder intacto: A Esperança.

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Por: Joseph Ratzinger (Bento XVI)
(Janeiro de 1988)


A Fé é Obediência. Obediência significa que nós redescobrimos a imagem essencial do nosso ser – a criaturalidade – e com isso nos tornamos verdadeiros. Significa que reconhecemos a relação de responsabilidade como forma fundamental da nossa vida e com isso o poder se converte de ameaça em esperança.

Essa obediência diz respeito ao próprio Deus. Mas para que nossa obediência seja realmente concreta e Deus não venha a ser confundido com as projeções de nossos desejos, o próprio Deus se faz concreto de diversas maneiras. Primeiramente na sua Palavra. Assim, a obediência à Deus é uma obediência à Sua Palavra. Devemos nos aproximar da Bíblia com aquele espírito de temor e obediência que nos últimos tempos esta correndo o risco de ser perdido. Quando cada um, individualmente ou em grupo, cria sua própria bíblia com a ajuda da classificação das fontes e da crítica da tradição, em oposição à totalidade da Escritura e da Igreja, isto não é mais obediência a Deus mas apoteose da própria posição com a ajuda de uma montagem de textos, na qual as escolhas e as omissões se fundamentam sobre as próprias posições preferidas.

[…] Hoje a Escritura é frequentemente usada, inclusive por católicos, como uma arma contra a Igreja. Certamente, como Palavra de Deus, a Escritura está acima da Igreja, que deve deixar-se guiar e purificar por ela. Mas ela não está fora do Corpo de Cristo: uma leitura privada nunca pode penetrar na sua essência mais íntima e específica. Uma leitura correta da Escritura pressupõe que nós a leiamos onde ela fez e faz história, onde ela não é testemunha do passado, mas força viva no presente: na Igreja do Senhor, com os seus olhos, os olhos da fé. Neste sentido, a obediência à Escritura é sempre obediência à Igreja; caímos na abstração se procurarmos desligar a Igreja da Bíblia ou usá-la contra ela.

Com isso chegamos a outro aspecto do tema da obediência: a obediência à Igreja. Aceitá-la tornou-se, hoje, particularmente difícil para nós. […] As grandes Igrejas se apresentam à consciência moderna como enormes aparatos de poder anônimo que parecem mais um perigo que uma esperança. […] E também verdade que os últimos 20 anos trouxeram para Igreja uma institucionalização exagerada e por isso preocupante. O desejo de participação, em si justo, criou novas formas organizativas de modo que, aos poucos, alguém que quer viver simplesmente como cristão na sua Igreja e quer nela somente a comunhão da palavra e dos sacramentos se sente deslocado. Uma Igreja na diáspora é, sob este ponto de vista, mais feliz, porque não pode inflar-se como acontece sobretudo no mundo ocidental. Aqui nos encontramos realmente diante de uma confusão de competência que suscita quase necessariamente um sentimento de incompreensão e de impotência e pode facilmente alterar a visão do essencial.

O específico da Igreja não é que nelas existam pessoas simpáticas, o que de resto é desejável e acontecerá sempre. O exclusivo é sua exusia: a ela são dados força e poder para pronunciar as palavras da salvação, para realizar ações de salvação das quais o homem tem necessidade e que não tem a capacidade para realizar por si mesmo. Ninguém pode se apropriar do “Eu” de Cristo ou do “Eu” de Deus. Com este EU fala o sacerdote quando diz: “Isto é meu corpo” e quando diz: “eu te absolvo dos teus pecados”. Ele só pode fazê-lo por força daquele Poder que o Senhor deu à Sua Igreja. Sem esse poder ele é apenas um agente social e nada mais. Se as palavras do Poder que vem de Deus não são mais pronunciadas e se não permanecem firmemente ancoradas no seu fundamento, o calor humano do pequeno grupo não adianta muito.

Sábado 9 de Julho, catedral de Desdren, Alemanha Oriental, onde fala da justa aproximação à Sagrada Escritura e da Obediência à Igreja.

Fonte: Ser Cristão na Era Neopagã – volume 1: Discursos e Homilias (1986-1999) Cardeal Joseph Ratzinger. 1º Edição. Novembro de 2014.
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Organizado por: Ivanildo Oliveira, © Apostolado Spiritus Paraclitus.
(http://www.paraclitus.com.br/2016/magisterio/10324/)

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