quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A Penitência Quaresmal tem um fim. Não se trata de algo mágico que ao se fazer já obtém algo extraordinário. É interessante perceber em algumas pessoas que ao fazerem uso da penitência ou simplesmente falarem dela demonstram o contrário do que dela se espera. A penitência existe para nos afastar do pecado e nos conduzir pelo caminho da virtude, tornando-nos semelhantes a Jesus. Porém uma prática quaresmal qualquer pode em vez de nos aproximar de DEUS ,nos afastar...sim, não é automático que ao fazer um jejum por exemplo, você obtenha a virtude ou outra coisa espiritual, até porque existem os que sob o pretexto do jejum, não o realizem, mas façam sim uma "dieta" e depois se orgulhem de emagrecer, sim orgulhem...um pecado. Já vi pessoas que sob o pretexto da abstinência , faltaram a caridade a uma visita, e esnobando que o praticavam, impunham a visita uma refeição mitigada, que parecia mais o pretexto de não se gastar e economizar com a visita, para depois gastar em " besteirinhas" degustadas egoisticamente só para si. Jesus já alertou de fazer só para nós, nossas boas obras. Se orar, em segredo, não para sermos vistos, se jejuar, com alegria e até usando perfume, se dermos esmolas que "não veja a mão esquerda o que faz a direita" (cf. Mt 6, 3)

A penitência é antes interior do que exterior, é um " rasgar o coração e não a veste" (cf. Jl 2,13), a " Misericórdia e não o sacrifício ( esforços físicos e semelhantes)"(cf. Mt 9, 13). Creio que o profeta Isaías previu essa situação de um egoísmo e orgulho mascarados de virtude quando disse:



"Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como a corneta. Denuncia a meu povo suas faltas, e à casa de Jacó seus pecados.
Sem dúvida eles me procuram dia após dia, desejam conhecer o comportamento que me agrada, como uma nação que houvesse sempre praticado a justiça, sem abandonar a lei de seu Deus. Informam-se junto a mim sobre as exigências da justiça, desejam a presença de Deus.

De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários.
Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz.
O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor?
Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.
É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante.
Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.
Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;
se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.
O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.
Reerguerás as ruínas antigas, reedificarás sobre os alicerces seculares; chamar-te-ão o reparador de brechas, o restaurador das moradias em ruínas." (Isaías 58,1-12)


Padre Reinaldo Bento

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